Posted on fevereiro 12, 2019
Cotistas pretos e pardos reprovados em avaliação racial pela UFPE questionam decisão
Grupo de estudantes que se autodeclaram pretos e pardos foi desclassificado após avaliação da UFPE e fez ato nesta terça-feira (12) — Foto: Marina Meireles/G1
O sistema de avaliação das cotas raciais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) está sendo questionado por um grupo de estudantes autodeclarados pretos e pardos. Pela primeira vez, a instituição adotou uma avaliação prévia antes da matrícula dos cotistas. Foram desclassificadas 280 pessoas.
Ao todo, 188 estudantes entraram com recurso por discordarem do resultado que os impediu de realizar matrícula. Nesta terça-feira (12), pais e estudantes que se sentiram prejudicados pela avaliação fizeram um ato em frente à reitoria da instituição para reivindicar explicações.
De acordo com a UFPE, os estudantes das costas raciais foram avaliados por 11 comissões formadas por meio de edital público e integradas por professores, alunos, técnicos e membros da sociedade civil.
Pedro Wanderley mostra a declaração de nascido vivo em que consta a cor parda; ele foi desclassificado após avaliação de cota racial — Foto: Marina Meireles/G1
Aprovado em medicina, o estudante Pedro Wanderley, 18, tem uma declaração de nascido vivo em que consta a cor parda, mas foi desclassificado na avaliação presencial feita pela universidade. O estudante quer respostas sobre o critério de avaliação.
“Foi bem frustrante. Eu já havia passado [no vestibular] e três pessoas me disseram que eu não sou digno de entrar na universidade porque eu não tenho a cor que eu sempre achei que tinha. Outras pessoas, mais claras do que eu, passaram na minha modalidade”, afirmou Wanderley.
A estudante de pedagogia Elisama da Paixão, 23, cursou dois períodos da graduação em uma universidade particular, com o auxílio de uma bolsa. Ao conquistar uma nota no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) que garantia a sua aprovação pelo sistema de cotas na UFPE, Elisama não hesitou em comemorar.
Elisama da Paixão foi surpreendida pela reprovação na cota racial da UFPE — Foto: Marina Meireles/G1
A alegria, no entanto, durou até a divulgação da lista de classificados após a avaliação da cor da pele dos candidatos declarados pretos ou pardos.
“Saí da avaliação convicta porque sei o que sou, mas a universidade não me viu da mesma forma. Sou pobre, sobrevivo com um salário mínimo e esse é o meu sonho. Só queremos ser avaliados dignamente”, disse, emocionada.
O aprovado em farmácia Michael Robert da Silva, 19, também foi desclassificado pela comissão que avaliou a adequação dos candidatos nas cotas raciais. “A primeira sensação foi de constrangimento. A segunda, de dúvida, porque sempre me considerei pardo”, afirmou o estudante.
José Miguel foi com o filho, Michael Silva, cobrar explicações sobre a reprovação do jovem na cota social da UFPE — Foto: Marina Meireles/G1
Universidade explica
Uma comissão formada por dois pais e três estudantes se reuniu com o pró-reitor de assuntos acadêmicos da UFPE, Paulo Góes, para respostas sobre as demandas. “É importante dizer que isso não foi criado, estamos cumprindo a lei”, disse o representante da universidade.
Segundo Góes, o procedimento é adotado em mais de dez universidades federais, mas essa foi a primeira vez que o processo foi feito na UFPE. Na primeira comissão, os estudantes eram filmados ao dizerem o próprio nome e assinarem uma autodeclaração racial.
“O critério utilizado para avaliar os estudantes é de características fenotípicas, ou seja, da cor da pele e da influência do meio ambiente no candidato”, afirma.
Os estudantes que entraram com recursos serão reavaliados, segundo o pró-reitor. “Queremos que os alunos de primeira entrada sejam avaliados o quanto antes, até o dia 22 de fevereiro. A expectativa é de que o procedimento seja realizado em sua totalidade até o dia 30 de março”, afirma Góes.
Na próxima avaliação, os candidatos devem passar pelo mesmo procedimento adotado na primeira, mas por uma comissão diferente. “É importante dizer que a universidade busca garantir os direitos de quem tem os direitos”, disse.
Marina Meireles, G1 PE